Viajão

Na recente viagem a Buenos Aires, eu cometi um erro de planejamento (e não foi na hora de fazer a mala!): levei pouco dinheiro, então tive que usar o cartão de crédito na Argentina. E vou contar como está funcionando essa forma de pagamento.

Normalmente, não é a melhor opção usar cartão de crédito no exterior. Além do IOF (que caiu de 6,38% para 5,38% em 2 de janeiro de 2023, depois que a gente já tinha voltado), a cotação costuma não ser a melhor, já que é convertida da moeda local para dólares dos EUA e, depois, para reais, tudo isso usando taxas de câmbios pouco vantajosas. Mas desde novembro de 2022, há uma cotação especial para turistas que usam seus cartões de crédito estrangeiros na Argentina.

Cotação do Peso Argentino

Atualmente, a cotação do peso argentino varia de acordo com o local da troca ou conversão. Existem diferentes taxas de câmbio, implantadas pelo governo argentino para incentivar variados setores econômicos. Os turistas lidam com três cotações: a oficial do Banco Central da Argentina, o “dólar blue” (que é o paralelo, e varia entre as casas de câmbio e a Western Union), e o MEP – ou “dólar tarjeta”.

A cotação oficial não é muito vantajosa para os brasileiros. Aliás, desde a minha primeira ida a Buenos Aires em 2011, a recomendação sempre foi levar reais (ou dólares dos EUA, se já tivesse) e trocar nas casas de câmbio oficiais, que já seria possível obter uma cotação melhor do que trocar o dinheiro por pesos em uma instituição financeira no Brasil.

Recentemente, o envio de remessas ao exterior por meio do serviço da Western Union se tornou uma opção interessante. Você pode decidir quantos pesos irá retirar e já ver qual será a taxa de câmbio. Aí, é só pagar a WU por PIX aqui no Brasil e retirar em uma loja da empresa quando chegar na Argentina (o pessoal do Esse Mundo É Nosso explicou em detalhes como funciona!)

A desvantagem é que você vai sair com um montante grande de notas e que algumas lojas ficam sem dinheiro ao longo do dia. Por isso, pode ser que você tenha que ir em várias unidades até conseguir retirar o valor que mandou. Foi o que aconteceu comigo. Eu me mandei uma quantia de pesos que acabou antes do previsto. Fiz uma nova remessa, mas não consegui voltar na loja maior e, nas menores, nunca tinha plata, como diziam. O resultado foi que usei o cartão de crédito na Argentina mais do tinha previsto.

O que é o Dólar MEP – a cotação para serviços de turismo

Em novembro, o governo da Argentina decidiu que estrangeiros teriam uma nova cotação ao pagarem por serviços de turismo (como hotéis) e de transportes (como compras de passagens aéreas ou marítimas), bem como em transações feitas com cartões de crédito estrangeiros. Para essas operações, passou a valer o “dólar MEP” (Mercado Electrónico de Pagos).

Com isso, as operadoras de cartões de crédito poderão optar por usar a mesma cotação do dólar das transações na bolsa de valores da Argentina, que é mais vantajosa que a taxa oficial. A mudança tem impacto em como as operadoras convertem a moeda para pagar os lojistas e, com isso, podem oferecer um câmbio mais interessante para que os turistas optem pelo pagamento em cartão. É importante destacar que vale para pagamentos processados na Argentina (ou seja: não vai funcionar para pagamentos via Booking.com e AirBNB).

Para os clientes, a experiência com cartão de crédito no exterior continua a mesma de sempre. Você compra na moeda local (no caso, pesos argentinos), o valor é convertido para dólar dos EUA e, depois, para reais. A diferença está na taxa usada para converter de pesos para dólar, que agora está mais próxima da usada pela Western Union. Por isso, mesmo com o IOF e a dupla conversão, o cartão de crédito não é mais a pior das opções para pagamento na Argentina.

Usando o cartão de crédito na Argentina

Uma vez que precisei usar o cartão de crédito, fiz um teste para compartilhar aqui no Viajão: usei tanto um cartão Visa, quanto um Mastercard.

No cartão da Visa, a cobrança na fatura apareceu direto com a taxa de câmbio alternativa. Por exemplo, um ingresso no MALBA (Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires) no valor de 900 pesos argentinos já foi lançado na fatura a 2,88 dólares (1 dólar = 312,50 pesos). (No site do MALBA hoje, 09/janeiro/2023, o valor do ingresso está 1100 pesos).

Com o cartão da Mastercard, a cobrança funcionou assim: o valor em pesos argentinos foi lançado no cartão. A conversão foi feita no dólar oficial e, depois, teve um crédito que fez com que a cotação ficasse a do dólar MEP.

No Cemitério da Recoleta – uma instituição governamental – a compra de ingressos só pode ser feita com cartão de crédito. Quatro entradas custaram 5.600 pesos argentinos (1.400 pesos cada). Pela cotação oficial, seria o equivalente a 32,33 dólares (1 dólar = 173,21 pesos). Mas, com o estorno, essa taxa ficou em 1 dólar = 296,92 pesos.

Em reais, a média de conversão no cartão de crédito foi 54 pesos para cada real. Pelo dólar blue, na mesma época, era possível conseguir taxas de 60 a 64 pesos por real.

Nota da edição em 20 de fevereiro de 2023: Alguns leitores relatam que gastos com cartões da Mastercard têm ficado na cotação oficial, sem o crédito que faz com que a cotação fique mais vantajosa. Até o momento, não temos informações sobre porque isso ocorre.

Vale dizer que o pagamento por aproximação funciona na maior parte das maquininhas de cartão e foi, inclusive, o que os atendentes tentavam primeiro. O pagamento por aproximação do cartão no celular não funcionou nenhuma vez, não sei o porquê. Ah, e é importante lembrar que você precisa desbloquear o cartão no banco para uso no exterior, caso pretenda usar esse meio de pagamento.

Informações apuradas em 9 de janeiro de 2023.