Antes da pandemia, fui convidada para um casamento no México. Seria em Monterrey, no norte do país, e o casal muito querido mandou todas as informações de trajetos, hotel com parcerias, uma viagem bem fácil de planejar. Só tinha um problema: eu não tinha férias para tirar naquele período. E, sendo um casal de uma mexicana e um norueguês que eu conheci nos EUA, era óbvio que não seria em nenhum feriado brasileiro.

Mas eu queria muito estar nessa festa. Então consegui um preço razoável de passagem, um dia de folga no trabalho e me preparei para um bate-e-volta internacional que começaria na quinta à noite e terminaria no domingo. Por ser uma viagem bem curta, eu me organizei o melhor que pude e pesquisei várias informações sobre o hotel, o local da festa, os horários do voo. E aí, me deparei com perrengues: jet lag, temporal, hotel inundado, restaurante fechado. Mas acabei aprendendo dicas importantes para todas as viagens internacionais que fiz desde então.

Os imprevistos típicos

Não conseguir dormir no vôo

Meu voo saia de São Paulo na quinta, às 23h30. Eu tinha acordado cedo naquele dia para trabalhar pela manhã, pegado trânsito à tarde para buscar a mala em casa e chegado com 3 horas de antecedência ao aeroporto. Embarquei no voo com a tranquilidade de começo de viagem, quando tudo é expectativa positiva.

Eis que não dormi quase nada no voo. Meu assento era no corredor, mas ao lado dos banheiros. Barulho boa parte do voo. Mesmo com todos os meus truques para de viajar sozinha no avião, eu não tive um voo aconchegante. Cheguei na Cidade do México cansada, tendo que passar com a mala de mão pela imigração e alfândega do aeroporto, para sair da área de segurança e entrar de novo para pegar o voo doméstico para Monterrey.

Vista da janela do avião de montanhas no México
Em um bate-e-volta, o que deu pra ver do México foi bem pouco…

Ter problemas no hotel

Até chegar no hotel, já era no meio da tarde. Fiz check-in, fui para o quarto (que tinha uma janela daquelas que não abre com vista para um telhado), tomei banho e achei que ia comer alguma coisa, talvez curtir a piscina do hotel, e ir dormir. Mas me chamaram pra jantar no shopping do outro lado da rua – e se os noivos querem jantar com os amigos na véspera do casamento, a gente vai, mesmo exaustos, né? E se eu ia jantar, não parei para comer naquela tarde. Contentei-me com o lanchinho de muffin de banana e café que tinha comido no aeroporto até a noite. No meio do jantar, caiu uma tempestade daquelas que não dava pra ver nada. Árvores sacudindo, chuva entrando pela varanda do restaurante, um fuzuê.

Quando tudo acalmou, atravessei a rua, entrei no quarto pronta para colocar o pijama e dormir e… o quarto estava alagado. Tinha entrado chuva pela fresta da janela falsa e molhado, bom, quase tudo. Até a cama estava molhada. A recepção pediu para uma pessoa tentar resolver, mas no que ela abriu a porta, já ligou para a recepcionista e falou que eu teria que mudar de quarto. Então volta a colocar tudo de volta na mala, descer para trocar a chave, entrar num quarto novo (esse sim, com janela e gigante). 

E aí, quando finalmente fui dormir, já tinham se passado mais de 40 horas de quando eu tinha acordado naquela quinta de manhã, toda animada para a viagem. 

Vista do quarto de hotel em Monterrey, com montanhas ao fundo e shopping center no primeiro plano.
A vista do hotel na manhã depois da tempestade…

Não se acostumar com o fuso

Em quase dois dias, eu só tinha dormido umas 3 horas no vôo. Logo, era de se esperar que eu dormisse muito mal naquela noite e acordasse completamente destruída. Enjôo, dor de cabeça, cansaço, vontade de dormir sem conseguir. São só duas horas de diferença de São Paulo para Monterrey, mas era como se eu estivesse completamente em outro fuso mesmo.

Foi assim que passei a manhã do dia da festa de casamento – motivo do bate-e-volta para o México: pensando que não conseguiria ir na festa. Nessa hora, o jeito foi respeitar o corpo e ficar quietinha na cama até conseguir descansar. Lá pelo começo da tarde, eu estava melhor e fiz um lanche bem leve no hotel mesmo, que era pra não pesar no estômago e fazer mais mal ainda. Até a hora da festa, eu estava bem. Mas perdi a van que levou os convidados do hotel para o local da festa e tive que pegar um Uber. Dos perrengues, acho que esse foi o menor. 

Não encontrar lugar para comer

A festa acabou sendo muito boa. A única parte chata foi o fim do bate-e-volta. Fui embora umas 4 da manhã, dormir um pouquinho no hotel, fazer check-out e já voltar para o aeroporto, pois tinha o voo até a Cidade do México ao meio-dia. Com o estômago ainda ruim, só comi uma maçã no café-da-manhã do hotel e fui para o aeroporto pensando em tomar um café enquanto esperava o vôo. 

Mas a Starbucks daquele terminal estava fechada e não achei nenhum lugar aberto que tivesse qualquer tipo de lanchinho. Ou seja: só fui conseguir comer depois de chegar na Cidade do México, trocar do terminal doméstico para o internacional e passar pela imigração e raio-x, lá pelas 16h. 

O que aprendi com isso

Organize a mala pensando nos momentos da viagem

A gente adora viajar só com a mala de mão. Mas isso implica se organizar um pouco melhor. Não dá para levar várias opções de roupas, sapatos, chinelos. Hoje em dia, eu faço assim: sapatos, chinelos e o que mais for pesado no fundo da mala. Roupas dobradinhas da forma mais compacta possível (para mim, acaba amassando menos). A nécessaire e o computador, que precisam ser retirados da mala no raio-x, por cima de tudo. E documentos na bolsa, de fácil acesso, com cópias impressas e na nuvem, por segurança. E ainda penso no meu dia para organizar as roupas. O pijama fica por cima, porque é uma das primeiras coisas que vou precisar. Uma troca de roupa fica por cima também ou na bolsa, para chegar no hotel e já tomar um banho sem revirar a mala inteira e ter que colocar tudo de volta quando o quarto alagar.

Devo confessar que muitas horas do bate-e-volta no México foram passadas no aeroporto… (Foto: carlos aranda/Unsplash)

Garanta o lanchinho

Eu fiquei longos períodos sem comer nessa viagem por pura falta de planejamento. E eu sei que meu estômago não lida bem com isso. Então por que não peguei umas bolachinhas de água e sal no mercado antes de ir pro aeroporto no dia que estava mal? Também nem pensei em comprar algo no mercado no dia que cheguei, já que logo me chamaram pra jantar um pouco mais tarde. Nada disso ajudou com a insônia, com a dor de cabeça, com o estômago mau humorado. Então hoje em dia, eu adotei comprar um café, um muffin – e uma bolachinha pra deixar na bolsa.

Sei que todo aeroporto é igual e cada aeroporto é de um jeito

Eu estava preparada para passar na alfândega no México, mas não esperava que ela fosse do tipo “aperte um botão e descubra a sua sorte”. Fiquei meio confusa ali na fila. Quando temos conexão doméstica logo depois do voo internacional, a ordem é: imigração, alfândega, raio-x e você está dentro do terminal doméstico. Mas nem sempre. Às vezes, tem que mudar de terminal – e, acredite, às vezes, a gente é vítima de golpe nisso! Aconteceu nas Filipinas com a gente, com um taxista querendo mudar a tarifa com a gente dentro do carro trocando de terminal.

Também estamos acostumados a comprar algo para comer antes de embarcar, e que cafés podem ter preços diferentes de acordo com o terminal e se é antes ou depois do raio-x. Bom, com algumas madrugadas passadas em aeroportos, agora aprendi que nem sempre tem lojas abertas 24 horas. Ou mesmo durante o dia. Podem ter poucas opções, ou nenhuma opção. Não dá para saber exatamente o que a gente vai encontrar.

Um bate-e-volta ainda é uma viagem

Eu confiei que a minha experiência anterior em viagens seria o suficiente para eu lidar bem com um bate-e-volta internacional. Mas o México era novidade para mim. Então o que aprendi, em resumo, é: use todas as ferramentas de viajante que você já adquiriu, mas esteja sempre preparado para um perregue novo.