Saí do escritório para almoçar e ouvi um grupo chocado que um deles tinha simplesmente ido viajar sozinho quando a pessoa que devia ir com ele não pode ir. Eu ri comigo mesma, porque estava há algum tempo pensando justamente no que faz algumas pessoas gostarem de viajar sozinhas e outras nem considerarem essa possibilidade. Ainda não tenho nenhuma conclusão sobre o assunto, mas tenho algumas reflexões sobre estilo de viagem que queria compartilhar nessa comunidade de viajantes.

Coragem

Um dia desses, eu estava conversando com a minha mãe sobre empreendedorismo. E comentei que eu achava que eu não era uma pessoa muito corajosa. A resposta da minha mãe foi imediata: “como assim, não é corajosa? Olha o tanto de viagem que você já fez. O tanto que você viajou sozinha por aí.”

E eu achei curioso. Porque, para mim, não tinha tido uma hesitação ou receio ou nada que me fizesse sentir que eu precisava de coragem para isso. Eu apenas tinha decidido que queria viajar e fui. Sozinha. Com o mesmo frio na barriga de toda viagem que já fiz, seja com a minha mãe, com amigos, ou mesmo com desconhecidos (em uma excursão que ganhei, mas isso é história para outra hora). Mas sem nenhuma dose extra de determinação por estar sozinha.

Talvez tenha sido nesse momento, nessa conversa com a minha mãe, que eu percebi que ‘coragem’ realmente é subjetivo. O que eu faço com naturalidade requer mais esforço de outra pessoa e vice-versa. Viajo sozinha tranquilamente, mas hesito há anos para fazer uma tatuagem, por exemplo. Porque cada pessoa tem um gosto, uma preferência, um histórico, uma bagagem de experiências, vivências e referências que vão impactar as escolhas quando ela decidir fazer uma viagem.

Estilo de viagem

Acho que eu fiquei com essa imagem de corajosa porque eu fiz o caminho contrário: decidi viajar, independentemente do estilo de viagem. E isso foi criando as minhas preferências. 

Por exemplo: viajar sozinha significa que quartos de hotel individuais talvez fiquem pesados no orçamento. Não à toa, muitos viajantes solo escolhem hostels – e eu descobri que adoro esse tipo de hospedagem (adoro tanto, que volta e meia penso em abrir um). Mas eu já dividi quarto de hostel com pessoas viajando a trabalho; pessoas que só queriam festejar; pessoas trabalhando remoto; famílias com adolescentes; uma senhora fazendo a primeira viagem internacional; uma mulher que largou o filho e o marido acampando e foi dormir no hostel; gente comemorando o aniversário; e gente que só estava de passagem pela cidade. Com todos esses tipos de colegas de quarto, fica difícil para mim dizer que existe um tipo de viajante solo. Se existe, eu ainda não descobri.

Também não consigo dizer que existe um destino que é mais para viajantes solo ou não. Já encontramos pessoas viajando sozinhas pelo Nepal, pela Tailândia, por Israel, por toda a Europa (talvez o mais comum), pelos EUA, pela Argentina… acho que o único lugar que eu diria que conheci apenas pessoas que estavam viajando sozinha foi o norte da Noruega. Mas talvez porque seja um destino fora da maioria das rotas mesmo. O que não quer dizer que eu não aceitaria uma companhia para visitar a Islândia e dividir os gastos.

Rachel em vagão vazio do metrô.
Minha primeira viagem sozinha, em um vagão vazio de trem, e uma dificuldade que ainda não solucionei: como tirar foto sozinha.

Viajão – todo mundo é

Acho que, por isso, um tema muito recorrente aqui no Viajão é experimentar. Para poder descobrir do que você gosta ou não gosta. Para tirar suas próprias conclusões. Quem acompanha o Viajão há tempos já deve ter percebido como a maioria dos nossos conteúdos é apoiada na nossa ida ao local, nas nossas viagens, em histórias pessoais mesmo. Mas a gente faz muita pesquisa também. Da hora que começamos a planejar uma viagem até o ponto final dos conteúdos sobre o destino, estamos sempre pesquisando, confirmando, atualizando as informações.

E também por isso, eu queria te dizer para continuar pesquisando sobre os destinos e possibilidades de viagem. E uma dessas possibilidades é viajar “desacompanhado”. Eu jamais direi que alguém precisa ir para Paris ou para Pequim ou para Ouro Preto. Fico nervosa com as discussões desnecessárias sobre o que é ser um “viajante de verdade”. Passou alguns dias fora da sua cidade? Oba, você também é um Viajão.

Então também jamais direi que você precisa viajar sozinho. Apenas queria contar que gosto muito dessa experiência e que, se eu puder ajudar a sanar dúvidas, trazer informações ou anedotas, e ajudar a te empolgar para uma viagem, vou considerar minha missão no Viajão um sucesso.

Foto da aurora boreal acima de uma montanha coberta de neve, durante viagem da Rachel para a Noruega. No canto inferior direito, pessoas estão ao redor de uma fogueira.
Em uma viagem para a Noruega, cheia de outros viajantes solo, pensando que os boletos iam estar me esperando em casa.

Quem vai junto contigo na viagem?

Assim como reflexões sobre coragem, há algum tempo também tenho pensado sobre como eu, como jornalista, tenho um espaço aqui no Viajão para produzir o conteúdo de viagem que eu sempre quis encontrar nas minhas pesquisas. Sou muito grata ao Xóia, ao Coqs e à Marina por me darem esse espaço. E eu quero usá-lo para que cada vez mais viajões construam memórias por esses lugares incríveis que temos na Terra (e, quem sabe, num futuro, também fora dela).

A gente não é constante. E nosso estilo de viagem também não precisa ser. A única constante que existe é que a gente sempre “se leva junto” na viagem. Esse é um raciocínio logo do primeiro capítulo do livro A Arte de Viajar, do filósofo Alain de Botton. Então vale ter a coragem de experimentar a viagem que estiver nos seus sonhos.