Ela é a atual campeã do Rock’n Rollo em Curitiba (veja aqui o que é), faz aniversário no mesmo dia que eu (clap clap), netweaver da Aldeia Coworking e se tudo der certo vamos faturar uma grana no Amazing Race do Canal Space (irra!) e pra não perder o costume das colaboronas desse blog e hoje teremos a história de Andreza Soinegg, mais conhecida como Deza, contando sua aventura no caminho de Santiago de Compostela. Valeu Deza!! E pra você que quer contar sua história, é só mandar pro souviajao@gmail.com que nós contamos pra geral. Valeu.

Caminho de Santiago.

Em um voo de Curitiba a São Paulo, com a revista TAM na mão e um texto belíssimo sobre o Caminho de Santiago, decidi pedir demissão e vender meus bens (pouquíssimos) para me arriscar (não pela primeira vez) pela Europa, começando pelo Caminho de Santiago. Não, nunca li o livro do Paulo Coelho.

Após as minhas vendas, fazer vaquinha com a família e arriscar viajar com a grana contada para 3 meses (e passagem para 6), peguei o Voo para Curitiba-São Paulo-Roma-Paris-Bordeaux, onde deixei a bagagem mais pesada e segui com minha mochila de 10 kilos a Saint-Jean-Pied-Du-Port.

E foi lá que tudo começou. 32 dias, 800 km e muitas histórias.

O chato de contar pra vocês as minhas experiências em detalhes é criar expectativas erradas naqueles que um dia vão querer fazer também, assim como eu evitei ler sobre as experiencias alheias e foquei em buscar técnica, dicas do caminho e até a história por trás da história (Caminho da Via Lactea, Druidas, Muçulmanos, país basco, igreja católica etc), vou passar aqui um resumo do resumo.

O primeiro dia de caminhada seria pelos Pirineus e o caminho já se iniciava turbulento, houve nevasca, então nada de ir pelas montanhas e sim pelo Vale.

O primeiro dia é puxado, pelo Vale ou não, o índice de desistência é alto. E foi nesse dia, exausta, com fome e frio que conheci a Marina, uma brasileira que virou uma irmã e caminhou comigo por mais 14 dias.

E não adianta tentar se preparar psicologicamente para o que está por vir, o caminho te surpreende, sempre. Albergues malucos, alimentação excelente (ou nem tanto), muito vinho (muito mesmo), festas e dor (essa não podia faltar né). Muitas vezes chuveiro só com água gelada, albergues que de madrugada fazem -4C, bad bugs, peregrinos e mais peregrinos em um mesmo quarto (lembrando que alguns não tomam banho), ronco (muito ronco) e por fim, o peso. Em algum momento do caminho os 10kg da sua mochila vão parecer mais, muito mais e você vai começar a se livrar de coisas que antes achava essencial na sua jornada.

Mas essas coisas que escrevi acima refletem (ao fazer o caminho) coisas positivas e você termina o dia rindo, seja pelo vinho, pelo cansaço ou pelas vitórias.

E foi assim que num belo dia de sol a caminhada seria de 36km e de longe eu avistava A chuva, o caminho era longo e a chuva ia chegar em breve. E chegou, e me molhou (muito) e rasgou minha capa com o vento (muito) e me deixou chorando (muito) e que se resolveu ao encontrar o albergue do Dudu em Boadilhas del Camino e ser recebida com um sorriso, banho quente e Elis Regina.

Ou como em Carrion de Los Condes onde fizemos o maior jantar coletivo da história do Albergue, com as freiras nos recebendo a canto gregoriano, muita gente maluca na cozinha e muito vinho pra deixar o ronco dos outros mais suportável.

Ou como um dia depois, passar mal em uma cidade (na verdade Pueblo, com 23 habitantes) sem telefone público, sem hospital, sem porra nenhuma e ser atendida por um médico peregrino que passava logo depois.

Ou como conhecer um senhor que durante 2 anos programava e praticava caminhadas com sua mulher para fazer o caminho de Santiago e ela vem a falecer 1 mês antes de viagem. Em memória a ela, ele andava com dois passaportes Perigrinos, um com o nome dela para colocar todos os carimbos que ele também colocava no dele.

Ou ainda conhecer Coreanos, Chineses, Franceses, Dinamarqueses, Alemães, Espanhóis, Egipcianos, Brasileiros, Colombianos e ficar em contato com eles mesmo 2 anos depois de ter feito o caminho, e rir e chorar ao ver fotos compartilhadas.

Mas não vou dizer pra vocês que o Caminho muda as pessoas, vou dizer que as pessoas mudam no caminho. E talvez mudar também não seja a palavra exata, afinal, as pessoas realmente mudam? Mas confesso que aprendi muito e voltei mais eu, entende?! Voltei como quem espera setas amarelas em cada esquina da cidade, voltei pra essa vida que não é tão simples como os 800km, é uma caminhada eterna, cheia de bolhas, gastrointerites e vendavais. E o que tento até hoje, e confesso ser difícil, é lembrar de todas as epifanias que se tem ao caminhar sozinha por tanto tempo,  é lembrar das escolhas e para onde elas me levaram, é lembrar que ao esquecer de observar a seta eu me perdia, e que voltar pro caminho requeria 5km a mais nas minhas pernas. Quanto será que vale 5km agora, nesse caminho nosso de cada dia?